sábado, 11 de agosto de 2012

Texto para o Dia dos pais de 2012

Serra do Marão, Portugal, cópia da Wikipedia, infelizmente não saiu a foto. Caprichei tanto e bobeei. Lá vai o texto Do que foi feito Meu Pai Lá longe, no alto de um monte, na Serra do Marão, uma casa branca, a única a se destacar na paisagem. Até hoje. Ainda que coberta de vazio por todos os lados. Lá dentro, a família grande se reunia na cozinha, perto do aquecedor rústico, para espantar o frio do inverno rigoroso. Rigoroso? Talvez nem tanto. Mas para os que não tem muitos recursos e moram na parte mais elevada da aldeia é de bater queixo, sim. Minha avó, meu avõ, meus tios e tias, meu pai criança. Cheiro de pão feito em casa e de bacalhau cozido. A beleza tinta do vinho da terra. E os rostos avermelhados por conta do calor do fogo, as crianças e da mistura com bebida, os adultos. Todos ao leito, logo após. Mil mantas sobrepostas. Depois, a manhãzinha, orvalho gelado, quase neve ou raramente, neve, e o campo a esperar as mãos calosas dos adultos em boa idade para trabalho pesado e a escola, para os mais jovens. Até os onze anos de do menino José. Depois, lar deixado à força, por interferência maldita de um idiota, padrinho dele. “Vai ficar rico, vai ficar rico”! Viagem atormentada em mar cruel, criança em prantos, e as canseiras do exílio involuntário, como todos os exílios do mundo. Duro labor para uma potencialidade intelectual grande, a vida mais poderosa do que o chorar contínuo a empurrar para frente a ânsia de conhecer mais, sempre mais, nos livros de sua paixão, conseguidos ninguém sabe como, lidos e relidos com o coração a palpitar. Mais tarde, mais força, mais trabalho e a religião como amparo. Muito amor para dar, sem modo de o demonstrar à bonita morena brasileira, acompanhada da mãe, como de costume, e aos filhos. Sem queixa, às vezes bruto, às vezes terno. Como não podia deixar de ser um garoto retirado de casa de sopetão, na infância ainda. Casamento sem noivado, casa nova, leitura variada dos clássicos portugueses e dos brasileiros, talvez de um ou outro francês. Poemas menorizados e escritos até. Alegria, afinal. Esforço de doer as costas, muita oração, família pequena, aumentada pelo irmão imigrante, eis a argamassa do edificar o imigrante. Forte alicerce para resistência aos tropeços enormes, ao longo da existência: perda de filhos não-nascidos, desperdício involuntário da fortuna amealhada, separação dos filhos criados, como é natural, doenças de bom comedor e do pulmão enfraquecido, a morte sem ar. Herança de cabeça rica, leituras partilhadas, carinho disfarçado, ai, que saudade!

O neto ( tradução que fiz do meu próprio texto em espanhol

O neto - Menina, como você está bem! Que que você faz para ter essa figura de dar inveja? Os anos não passam para você. Todos a elogiavam, menos alguns vendedores do povão que a chamavam de Tia, com ar de quem quer dizer velha tia. Ainda não tinha o apelido de vovó. Mais alguns anos... Dolores certamente não aparentava seus sessenta e sete anos. Não era magra, nem gorda. Esbelta, cultivava o corpo na ginástica desde os quinze anos, pelo menos. Mulher “moderna”, tentava seguir a moda sem medo de parecer ridícula. Às vezes, usava a saia acima do joelho e uma blusa apertadinha lhe marcava os seios e a cintura: uma moda para garotas,em 2010, que as mulheres mais velhas não devem adotar. Exceto quando conservam um corpo perfeito, o que é quase impossível para a maioria das brasileiras, adeptas do feijão com arroz. Seu pesadelo, a idade. Pensava em coisas excitantes que seu corpo e seus hábitos não lhe permitiam mais e se angustiava. Até os quarenta e tantos, era possível ter fantasias de festas monumentais, trajes novos a todo momento, mil amigos, namorados e, em seguida, um marido sempre companheiro de farra. Filhos criados, marido morto, ameaça de solidão a lhe atrapalhar a vida, enfraquecendo sua vontade de experimentar todas as sensações. Aos poucos, a depressão envolvia-lhe a alma, o corpo começava a marcha inexorável para o encolhimento, produzindo-lhe uma curvatura grande nas costas. Sempre evitava olhar-se no espelho, pois o medo da verdade a assombrava. Desviava o rosto ou dava uma olhada rápida. Aposentada, tinha tempo livre para se ver por muito tempo. Por certo não era seu rosto o que o reflexo do espelho lhe exibia: cheio de rugas, sobretudo, as clássicas em volta dos olhos e na boca, a pele flácida do pescoço, o cabelo escuro a se manchar na cabeça, os cabelos brancos se obstinavam em aparecer na raiz... A Terceira Idade chegara para nunca mais ir embora. Assim, o neto concentrava suas esperanças de uma existência sem atropelos, de volta às gargalhadas e não de emoções massacradas pelo destino. Não a interessavam os outros, ainda que fossem pessoas de apelo evidente. Desejava o calor do bebê, desde o instante em que o havia visto. Ficava encantada com seu sorriso, quando ela lhe fazia trejeitos graciosos ou brincadeiras ou ria com ele. Orgulho de ser a primeira pessoa a receber seu sorriso. Depois, quanto tinha nove, dez meses, os primeiros passinhos. Dolores estava perto para lhe dar confiança, faze-lo sentir-se capaz. Como gostava do banho da tarde! Era um momento mágico de alegría e confusão, vivido por ambos. O neto lhe garantia uma vida sem problemas porque ela os jogara no lixo, com exceção dos dias em que não estava perto da criança. Mas esperava por ele com a certeza de que voltaria a seus braços. A mãe trabalhava fora de casa, precisava de uma avó livre de compromissos para cuidar do filho em sua ausência. Que maravilha! Feriados e fins de semana eram um pouco mais tristes: os pais desejavam a presença do filho e ela tinha que viver dos preparativos para recebe-lo na semana seguinte. Além do mais, que merda! Era obrigada a disputar a criança com a avó materna, dona de uma situação semelhante de idade, mas com marido vivo. Ás vezes, tinha vontade de mata-la, e o confessava às amigas pelo telefone - é claro que se acostumara a lhes falar por telefone. - Veja só! Vou passar uns três dias sem te-lo só para mim. Essa mulher é terrível: vive uma vida mansa e não nos deixa em paz. Dolores jorrava palavras a respeito de seu anjinho, a ponto de não escutar o que as amigas antigas diziam. As novas, não, porque não as tinha. - Sem meu neto, prefiro morrer. O aparecimento dele em minha vida me levou ao caminho da felicidade quase perdida. Você sabe, avó é mãe com açucar. Uma mulher não abdica de seus prazeres, a não ser quando a velhice bate a sua porta, aos setenta anos ou mais. Aí, tem que optar, como o poeta Robert Frost, por uma ou outra estrada: a vida sem sal, sem expectativas ou a dedicação a alguém que nos faça menos dolorosas as mudanças. Um trabalho diferente não é fácil para uma senhora idosa, o interesse pela caridade, pelos pobres, nem sempre é uma vocação, uma habilidade especial: pintar, bordar, tecer... não é para qualquer uma, por mais que sejam calmas até demais para mulheres como Dolores, por exemplo. Pior que tudo, as mulheres mais velhas tem que refrear os desejos da carne, expressão dos católicos antigos, aceitar as limitações sociais, ocupar-se com outros pensamentos. Nenhum homem, em nosso mundo ocidental, se interessa sexualmente por mulheres de setenta anos ou mais: preferem preservar a masculinidade e a vaidade com as mais jovens. Portanto, tem que levar a vida sem irritação, sem queixas nem exigências, para não afastar as outras pessoas. E é nessa hora que surgem os netos, presente de Deus. Vem na hora certa, enchendo os avós de novas criancices, os aposentados de afazeres prazerosos. Orgulhosos, vão pelas ruas empurrando carrinhos de bebê, substituem as mamães. Sobretudo, durante o dia, porque de noite elas voltam a pegar os filhos. - Quero seguir cada progresso de meu neto, suas tentativas de sentar-se, de andar, de falar, dividindo com os pais, às vezes, mimando-os em demasia, por que não? – pensava Dolores com entusiasmo. Seu ínico medo, o momento em que os pais não confiassem mais em suas forças para as tarefas. Sim, porque a velhice não para. Um movimento brusco da cabeça ou dos joelhos e tudo se complica. Se chega a hora das quedas e enfermidades sérias, muito pior. Ela conhecia mulheres que não se mexiam de casa, nem para visitar a família. Rezava dia e noite para que seu santo favorito lhe concedesse a graça do acesso ao neto pelos anos que lhe faltava viver. A manhã de aquele dia funesto chegou com sol forte de verão, que não invadiu seu leito vazio de mulher sem nenhuma companhia, nem a convidou a ir à praia. Abriu os olhos lenta e progressivamente. Olhou o teto do quarto por alguns instantes. Não compreendia porque não desejava começar a vida cotidiana. Alcuma coisa não estava em seu lugar. Seria o calor? A lâmpada que deixara acesa toda a noite? A janela de madeira fechada que sufocava o ar? A brisa fresca que se esquecera da cidade de calor incessante? As nuvens ameaçadoras de chuva e trovoada desde as primeiras horas da manhgã? O marido que não passara a noite a seu lado? A filha que não queria viver numa cidade tão difícl? O avanço da criminalidade por toda parte? O amigo doente que não se curava? Tentou ouvir os ruídos comuns da casa: os passinhos da empregada, o ron-ron-ron da geladeira velha, o trinar dos passarinhos de sempre em sua janela, a voz disfarçada dos vizinhos... Ficou sem se mexer. E. para seu desespero, compreendeu tudo: era aausência do neto que jamais tinha tido. Então, chorou.

Lento..., extrato de poema de Natercia Freire

" Estou no fundo ou estou nos cimos?
Estou morta ou estou a sonhar?
Tenho as mãos presas nos limos
ou molhadas de luar"


Boas-vindas

Minha gente querida
Agradeço muito a visita a meu vício mais atual de escrever.
Que gostem e me perdoem os errinhos. Sou uma velha novata.
Maria Lindgren