sábado, 9 de janeiro de 2010

Gaviões e passarinhos

Meus queridos amigos
Estamos em janeiro de 2010, pasmem!!!!!
Ano -Novo, novo resfriado muito forte, depois de viagem marítima bem sucedida. Ah! O calor do Rio de Janeiro! Quase perco as malas e a cabeça, claro, pois sair de uma "nave" que "va" com ar condicionado e muito vento fresco todo o tempo e cair na brasa carioca do cais do porto, com direito à mulatas rebolando e tudo, é pra colocar nacaquinhos no sótão, domo dizia minha mãe.
Como não havia macaquitos nem macacões, todos embrenhados no pouco de Mata Atlântica que ainda nos resta, apavorados pelo calor, peguei uma bruta gripe, sem febre, mas daquelas que lembram o século passado, em que se fazia escalda-pés e se colocava uma toalha molhada na cabeça.
Sofri as penas do fogo eterno durante quatro días de calor abafado, coriza sem interrupção para respirar, dor de rosto inteiro, tosse seca de doer músculo são... Enfrentei chuveiro frio e ar condicionado, apesar de protestos veementea de minha vizinha que de-tes-ta frio e, sobretudo, ar condicionado.
Assim que tive trégua do desespero, escrevi que nem uma ensandecida. Fou o que me salvou do tédio da casa e da sensaboria da vida gripal.
Mandei dois textos para minha amiga craque não de futebol, mas de letras e publicações via internet, Vãnia Diniz, esperando que os demais amigos do yahoogrupos.com.br lessem e gostassem, o que me faria dar menos dois ou três espirros.
Não recebdno tantas respostas como ansiava, decidi escrever mais um, inspirada nos passarinhos que me fizeram companhia na varabda picola de meu apart.
Aí vai o Gavião e Passarinhos, imitação do título de Pasolini que acho lindo.

Gaviões e passarinhos

...Porque, criança, os pássaros não falam
Gorgeando apenas sua dor exalam
Sem que os homens os possam entender...
Olavo Bilac

Não, não se assustem. Não vou plagiar Pasolini em sua paródia cinematográfica da luta de classes. Roubo-lhe apenas o nome do filme. Falo de aves mesmo.
As aves de minha rua não são de porte grande: são passarinhos. É verdade que há pombos, mas raros, e as gaivotas vêem-se longe lá bem alto, quando desfilam em carreiras simétricas.
Gente da cidade está condenada a poucos encantos da natureza, eu sei. Daí que todas as manhãs me atraem, me trazem à vida os chilreios e pios dos passarinhos, que não conheço pelo nome, estúpida que sou. Tirando bentevi, beija-flor, pardal, canário, o resto me é desconhecido. Nem a sabiá, de Tom Jobim, sei identificar.
Nunca me dediquei a estudar pássaros. Preferi imaginá-los nas metáforas e descrições dos poemas. Too bad! Sinto vergonha da minha falta de erudição ornitológica. Que glória saber o nome em latim dos pássaros de minha terra!
Tenho muitas razões para apreciar os passarinhos: delicadeza de alma e de figura, vôo irresponsável, inquietação gostosa, pouso de equilibrista na pontinha de um galho, ainda que de planta sem valor, bater de asas perfeito ao mesmo tempo em que se alimenta de flores...
Torço por eles, sofro sua ausência, desde o dia em que caiu ferido um bem pequenino, no quintal de minha casa, expulso da mangueira aparentemente acolhedora de ninhos. Tremelicou e morreu em minhas mãos, sem um pio. Eu nem entendia ainda o que significava “morrer como um passarinho”, comparação consoladora para o inevitável fim humano, que só constatei na morte de minha mãe.
Gosto de seus cantos, diferente de meu irmão boêmio, que não conseguia conciliar o sono por causa da seresta matinal em volta de seu quarto.
Odeio a prisão das gaiolas, desde que Olavo Bilac reiterou o caráter maligno da prisão de um pássaro.
Desejo que os passarinhos a meu redor voem cem anos, no mínimo. Enfeitariam minhas manhãs de velha lúcida de mais de cem - minha meta atual; não faço por menos. Continuariam a espalhar graça e chilreio, anunciariam vivacidade, logo pela manhã.
Hoje, como sempre, parei para observar por alguns minutos o passarinho pousado no alto da palmeira imperial de minha esquina. Voava despretensioso e, de repente, um pouco cansado, encontrou um local de pouso metade do meu mindinho. Eu que cambaleio com o balanço ameno de um navio em mar nada cruel; que tropeço nas pedras portuguesas das calçadas e em meus próprios pés, quando não chuto móveis; que não alcanço um pulo de menos de meio metro do solo; que não consigo assobiar de jeito nenhum; que abro minhas “asas” sem jeito apenas para abraçar as pessoas mais queridas; que me comunico com voz arranhada via telefone ou nem isso, via computador, morro de inveja e os admiro, cada vez mais.
Soube esta manhã que os gaviões da mata lá da Gávea estão atacando os pássaros de meu bairro. E eu nem sabia da existência de gaviões por aqui. Não sei porque foram contar horror tamanho a uma pessoa fragilizada pelas notícias medonhas do dia a dia dos humanos, que dirá de uma ave, sem nenhum pecado, nem venial.
Gavião sempre foi símbolo de poder de destruição, pior que urubu, pois este come depois da morte do objeto de sua gula. Sei que há gaviões humanos pela aí, mais maquiavélicos, pois matam seu semelhante por pura ganância de dinheiro ou por vingança, não por fome. A cada dia, ouço mais e mais tragédias de homens-gaviões a destroçar outros homens. Não me acostumo, sempre me revolto.
Mas digo a vocês, com toda a sinceridade:, se me dessem uma arma de longo alcance e eu pegasse um gavião voando em direção aos meus passarinhos, era um tiro certeiro, com certeza. Sem nenhum arrependimento.

Maria Lindgren

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Lento..., extrato de poema de Natercia Freire

" Estou no fundo ou estou nos cimos?
Estou morta ou estou a sonhar?
Tenho as mãos presas nos limos
ou molhadas de luar"


Boas-vindas

Minha gente querida
Agradeço muito a visita a meu vício mais atual de escrever.
Que gostem e me perdoem os errinhos. Sou uma velha novata.
Maria Lindgren