terça-feira, 6 de maio de 2008

Minha Nobreza

Minha nobreza
Tenho dois sobrenomes: Alves, de meu pai; Lindgren, de minha mãe. Apesar de respeitar a familia portuguesa de meu pai, não tenho dúvidas de que o sobrenome sueco de minha mãe, mais estranho, sempre tem mais força em um país de língua portuguesa. Pelo menos, todas as vezes em que falo Lindgren, seja para documentos oficiais, seja em roda de amigos, tenho que soletrar a palavra L de leite, I, de idéia, N, de não... Um trabalho e tanto!
Quando não caem na gargalhada ao saber que sou descendente de suecos.
- Que nada! Morena desse jeito só pode descender de preto ou índio.
Na verdade, não tenho nada de sueca. Quem me dera a classe de uma Greta Garbo ou uma Ingrid Bergman! Se minha pele parece mulata é porque gosto que me enrosco de sol e venho de gente da Bahia, da negritude dos baianos. Quanto a meus cabelos, são mesmo é castanho-escuros e, se exibo raios louros, é por força e graça dos cabeleireiros que me escondem os cabelos brancos.
Os Alves

Os Alves são de uma aldeota portuguesa quase desconhecida. Chama-se Moura Morta, não se sabe bem porquê. Talvez alguma árabe, querida do dono da terra, tenha morrido cedo e o homem resolveu homenageá-la, como aconteceu com a célebre Inês de Castro, que foi rainha depois de morta, como todos sabem, até Camões.
Conheci a terra de meu pai a custo, por bondade de um motorista mais sabido da Régua, que me levou até lá, só para me ver em lágrimas. É um lindo lugarejo, espalhado na Serra do Marão, no norte de Portugal.
Meu avô paterno era professor da única escola primária da região, onde meu pai cursou as primeiras letras, por cinco anos apenas. O que o ajudou a prosseguir nos estudos até altas horas da madrugada, à luz de velas e, depois, por toda a vida de imigrante comerciante. Terminou sua vida de oitenta anos e seis anos, com leituras variadas em português, francês e espanhol. Louco por poesia, lia e relia Camões, com facilidade, em qualquer edição, além de muitos outros. Seu último trabalho em casa foi um ensaio sobre O Nome da Rosa, de Humberto Eco.
Seu Alves trabalhava num bazar, comércio pesado, nove ou dez horas por dia. Jantava com a família e, uma vez ou duas por semana, lá se ia fazer conferências filosófico-religiosas, junto com intelectuais católicos, na igreja de São Lourenço ou no Cenáculo Fluminense de Letras, de Niterói, cidade em que vivia. E fez palestra até no Gabinete Português de Leitura, do Rio. Quer mais nobreza do que esta?
Devo a meu pai minha formação literária, o gosto pela poesia, pela literatura em geral, motivo de muito orgulho..

Os Lindgren

A familia Lindgren, nos contava minha mãe, resulta do casamento, na Bahia, de um consul sueco com uma baiana sensual e morena. Seria por preconceito a omissão de que era negra, como a mulher da foto? Só sei que o tal diplomata branquelo, de olhos azuis e cabelo louro tarou por minha bisavó.
Essa história me provocava sonhos com um sueco que se apaixonava perdidamente por mim. Por isso, a mania de namorar louros. Até que um morenão me pediu em casamento e logo falei que sim: medo de encalhar aos dezenove anos.
Minha avó clarinha, eu me lembro, tinha olhos azuis, quase cinzentos; meus tios e primos, mescla de morenos e louros não me deixam mentir.
Mas, se quero contar tudo o que sei dos Lindgren, há que mencionar uma carta que recebi por email, há pouco tempo. De Celindgren Para Maria Lindgren
Um primo desconhecido me descobriu no Google, ao procurar o nome de nossa familia. Contou uma historia bem mais detalhada. Meu bisavô sueco, chamado Oscar, tinha um irmão Carlos, com quem não se entendia. Por isso, deixou a Bahia, estudou medicina e se mandou para o Rio de Janeiro com uma brasileira, baiana ou carioca, sei lá. Desta união nasceram quatro ou cinco filhos, mas nenhum era intelectual, ao que se saiba. Meu primo chegou à conclusão, bastante estranha, de que a família Lindgren não é muito inteligente e ficou superfeliz ao me encontrar na Internet, uma Escritora. Pulei de alegria eu também.
O que o cara não sabia era de meu irmão diplomata, autor de vários livros sobre Direitos Humanos, da Astrid Lindgren, uma escritora de literatura infantil, sueca e premiada, que tem um monumento em sua honra acho que em Estocolmo. Além disso, eu mesma conheci uma moça de Brasília, doutora importante, que trabalha com um grupo conhecido de médicos. Vários Lindgren “intelectuais”, portanto.
Este meu primo, acrescentou que minha familia materna vem de um casal sueco de 1741. Hans e Helena. Portanto, somos de linhagem antiga. O que me faz sentir parte da nobreza sueca, hm, hm.
De minha mãe, além do sobrenome complicado, carrego a tendência à ironia, à gozação e às festas, o que não é pouco.
Só que ainda trago no peito a esperança de, um dia, ser chamada de Marquesa Maria Lindgren. Não faço por menos. Quem sabe?
Maria José Lindgren Alves, vulgo MARIA LINDGREN

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Lento..., extrato de poema de Natercia Freire

" Estou no fundo ou estou nos cimos?
Estou morta ou estou a sonhar?
Tenho as mãos presas nos limos
ou molhadas de luar"


Boas-vindas

Minha gente querida
Agradeço muito a visita a meu vício mais atual de escrever.
Que gostem e me perdoem os errinhos. Sou uma velha novata.
Maria Lindgren